Miguel
Angelo
Do
mais “alto” ao mais “baixo”, do mais “complexo” ao mais “simples” está o poder.
O poder está nessas palavras também. O poder de afetar o leitor ou o simples
poder das aspas que respondem o temor de ser o escritor mal compreendido.
O
poder está nas forças produtivas e em suas relações de produção. Está no
capital, mas felizmente está em nós, os pobres e os que com os pobres se
implicam visando a real transformação das injustas perversidades que ai está.
Do
lado de lá da ponte, nós nos vemos recuar a cada dia a uma simples tarefa ética
e moral; defender a efetivação de nosso ambicioso sistema universal de saúde.
Isso se dá por vários motivos, mas as motivações que se cristalizam cada vez
mais são de quê aqueles que seriam os responsáveis por dar as coordenadas
recuaram, esqueceram Marx e até mesmo Rousseau para abraçar Kant. Abandonaram o
materialismo histórico e ficaram com o historicismo, pregam a paz perpetua no
capitalismo ou mesmo a ideia de que se cada um de nós reconhecermos como tão
perversos como o capitalista tudo se resolve. A (pós) modernidade tá dada do
mesmo jeito em todo o mundo e a opressão do projeto que nos levou aqui no sul a
toda essa anátema nenhuma centralidade tem.
De
nada vale o reconhecimento de que os direitos positivos do contrato e
propriedade privada estão no centro da inviabilidade da efetivação dos direitos
sociais. De nada vale a urgência de retomar a história a contrapeso em nome dos
injustiçados para com e não por eles proceder às lutas. O que vigora é que, com
o uso de nossa razão e boa vontade, reconheçamos a inviolabilidade da
propriedade privada e o poder do Estado em impor esse Direito, antes natural,
hoje imposto (positivo).
Novamente
quem tinha a razão eram os pobres que no Fórum de Hip Hop MSP, no Comitê Contra
o Genocídio da Juventude Preta, Pobre e Periférica e em diversos outros espaços
bradaram com vigor enquanto a classe-média gravitava-nos com o discurso em Marx,
mas que ao chegar a sua casa se deitavam com Kant.
Ainda
do lado de lá da ponte vigora a classe média. Uma esquerda classe-média,
docentes classe-média e estudantes que do segundo para o terceiro ano de curso
se comportam como classe média, espírito de classe média.
Esquerda
classe média, pois estão sem Marx. Estão sem Marx, pois preferem viver na
alienação produzida pelo conforto virtual de posses mediocrizantes do que se
implicar com os pobres. A massa da classe trabalhadora brasileira é
precarizada, não branca, mulher, gay, lésbica, bissexual, travesti e
transgênero, mas o programa da esquerda ainda está em 1940. Se for assim, isso
justifica que ela não esteja na periferia, afinal, que Cidade Tiradentes ou
Grajau existia em 1940? Como disse Milton Santos, quando muito, aparecemos como
enfeites em suas propostas.
Docentes
classe-média, que ao assistir toda a esquerda europeia virar socialdemocrata pegou
o bonde. Revolução? No máximo a democracia salarial para contrapor o
neoliberalismo, um pedacinho do Estado para desenvolver um clube de
pseudomarxistas (derem um passo a frente de Kant e abraçaram Hegel)
pequeno-burguês e toda aquela “militância” de cobrar uma balinha do capitalista
enquanto esse comemora cada extração de mais-valia.
Ainda
ocorre que há docentes mais conservadores. Aqueles que jogam a responsabilidade
pelo que está ai nos pobres, no consumo dos pobres, sobretudo. Uns que se dizem
pós-modernos mais continuam reproduzindo o mandarim de produções científicas de
um ocidente cada vez mais fúnebre e sem respostas para o futuro. Estes docentes
enxergam no Brasil o que Habermas, Giddens e Bauman enxergam na Europa, ou
seja, uma enorme classe média que não mais se vê como proletariado e não
assumem que as conquistas do pós-guerra zeraram mantendo-se a cultura de
consumo precedente. Copiam lá e colam aqui.
É de
tamanho absurdo o que ocorre que ouvi em sala de aula esses dias que o consumo
tomou o papel do trabalho no modo de produção capitalista, todos somos culpados
e devemos aceitar (o capital e o Estado que o representa).
Estudantes
que nada reagem à situação colocada. Que nem meramente podem criticar, pois não
detém a capacidade de análise e sendo assim não podem ao menos sustentar seus
próprios argumentos. Que no começo da aula querem Marx e no fim da aula pregam
a paz perpétua de Kant.
Em
um universo paralelo em que mais vale a pregação do conservador do que a
implicação no movimento concreto da sociedade os acadêmicos de fato resolveram
deitar nos louros da instituição e aceitar a ordem do dia. Quem sabe o
capitalista não venha lhe entregar uma balinha como prêmio.
Do
lado de cá da ponte queremos tudo. Não estamos com os holofotes nem com o
Estado. Para o PT dissemos; “Queremos tudo!”, para os tucanos do Estado
dissemos; “Tudo e sua deportação!”. E para a classe média continuamos a dizer;
“Não se avança porque vocês não querem nada com nada!”.
Não
precisamos ver a revolução na esquina para afirmar que nossa ação em conjunto
com a inquietação que nós nos movimentos estamos ajudando a produzir logo
rompera com esse aparente consentimento muito falado onde ainda não trocaram
Marx por Kant. Aliás, o grande custo continua sendo o dessa classe-média que só
agora reconheceu a experiência da escassez. Resolveram sair às ruas, ora com
Kant, ora com Lacerda.
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