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segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Onde Está o Poder?

Miguel Angelo

Do mais “alto” ao mais “baixo”, do mais “complexo” ao mais “simples” está o poder. O poder está nessas palavras também. O poder de afetar o leitor ou o simples poder das aspas que respondem o temor de ser o escritor mal compreendido.
O poder está nas forças produtivas e em suas relações de produção. Está no capital, mas felizmente está em nós, os pobres e os que com os pobres se implicam visando a real transformação das injustas perversidades que ai está.
Do lado de lá da ponte, nós nos vemos recuar a cada dia a uma simples tarefa ética e moral; defender a efetivação de nosso ambicioso sistema universal de saúde. Isso se dá por vários motivos, mas as motivações que se cristalizam cada vez mais são de quê aqueles que seriam os responsáveis por dar as coordenadas recuaram, esqueceram Marx e até mesmo Rousseau para abraçar Kant. Abandonaram o materialismo histórico e ficaram com o historicismo, pregam a paz perpetua no capitalismo ou mesmo a ideia de que se cada um de nós reconhecermos como tão perversos como o capitalista tudo se resolve. A (pós) modernidade tá dada do mesmo jeito em todo o mundo e a opressão do projeto que nos levou aqui no sul a toda essa anátema nenhuma centralidade tem.
De nada vale o reconhecimento de que os direitos positivos do contrato e propriedade privada estão no centro da inviabilidade da efetivação dos direitos sociais. De nada vale a urgência de retomar a história a contrapeso em nome dos injustiçados para com e não por eles proceder às lutas. O que vigora é que, com o uso de nossa razão e boa vontade, reconheçamos a inviolabilidade da propriedade privada e o poder do Estado em impor esse Direito, antes natural, hoje imposto (positivo).
Novamente quem tinha a razão eram os pobres que no Fórum de Hip Hop MSP, no Comitê Contra o Genocídio da Juventude Preta, Pobre e Periférica e em diversos outros espaços bradaram com vigor enquanto a classe-média gravitava-nos com o discurso em Marx, mas que ao chegar a sua casa se deitavam com Kant.
Ainda do lado de lá da ponte vigora a classe média. Uma esquerda classe-média, docentes classe-média e estudantes que do segundo para o terceiro ano de curso se comportam como classe média, espírito de classe média.
Esquerda classe média, pois estão sem Marx. Estão sem Marx, pois preferem viver na alienação produzida pelo conforto virtual de posses mediocrizantes do que se implicar com os pobres. A massa da classe trabalhadora brasileira é precarizada, não branca, mulher, gay, lésbica, bissexual, travesti e transgênero, mas o programa da esquerda ainda está em 1940. Se for assim, isso justifica que ela não esteja na periferia, afinal, que Cidade Tiradentes ou Grajau existia em 1940? Como disse Milton Santos, quando muito, aparecemos como enfeites em suas propostas.
Docentes classe-média, que ao assistir toda a esquerda europeia virar socialdemocrata pegou o bonde. Revolução? No máximo a democracia salarial para contrapor o neoliberalismo, um pedacinho do Estado para desenvolver um clube de pseudomarxistas (derem um passo a frente de Kant e abraçaram Hegel) pequeno-burguês e toda aquela “militância” de cobrar uma balinha do capitalista enquanto esse comemora cada extração de mais-valia.
Ainda ocorre que há docentes mais conservadores. Aqueles que jogam a responsabilidade pelo que está ai nos pobres, no consumo dos pobres, sobretudo. Uns que se dizem pós-modernos mais continuam reproduzindo o mandarim de produções científicas de um ocidente cada vez mais fúnebre e sem respostas para o futuro. Estes docentes enxergam no Brasil o que Habermas, Giddens e Bauman enxergam na Europa, ou seja, uma enorme classe média que não mais se vê como proletariado e não assumem que as conquistas do pós-guerra zeraram mantendo-se a cultura de consumo precedente. Copiam lá e colam aqui.
É de tamanho absurdo o que ocorre que ouvi em sala de aula esses dias que o consumo tomou o papel do trabalho no modo de produção capitalista, todos somos culpados e devemos aceitar (o capital e o Estado que o representa).
Estudantes que nada reagem à situação colocada. Que nem meramente podem criticar, pois não detém a capacidade de análise e sendo assim não podem ao menos sustentar seus próprios argumentos. Que no começo da aula querem Marx e no fim da aula pregam a paz perpétua de Kant.
Em um universo paralelo em que mais vale a pregação do conservador do que a implicação no movimento concreto da sociedade os acadêmicos de fato resolveram deitar nos louros da instituição e aceitar a ordem do dia. Quem sabe o capitalista não venha lhe entregar uma balinha como prêmio.
Do lado de cá da ponte queremos tudo. Não estamos com os holofotes nem com o Estado. Para o PT dissemos; “Queremos tudo!”, para os tucanos do Estado dissemos; “Tudo e sua deportação!”. E para a classe média continuamos a dizer; “Não se avança porque vocês não querem nada com nada!”.

Não precisamos ver a revolução na esquina para afirmar que nossa ação em conjunto com a inquietação que nós nos movimentos estamos ajudando a produzir logo rompera com esse aparente consentimento muito falado onde ainda não trocaram Marx por Kant. Aliás, o grande custo continua sendo o dessa classe-média que só agora reconheceu a experiência da escassez. Resolveram sair às ruas, ora com Kant, ora com Lacerda. 

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