Miguel Angelo
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Nós geralmente pensamos que a disciplina militar é uma
questão de só seguir ordens sem ter que pensar a respeito, obedecendo regras.
Você não pensa, você cumpre o seu dever. Não é tão simples assim. Se fazermos
isso, apenas nos tornamos máquinas. Tem que haver algo a mais. Pegando qualquer
um dos grandes cabeças dos grupos de extermínio como Telhada, Conte Lopes e até
uns mais "clássicos" como Ernesto Milton Dias, Sérgio Fernando
Paranhos Fleury, Correinha, todos os medalhistas da
Rota, Força Tática, DEIC, DENARC, DAS e por ai vai, você se irá se deparar com
pessoas que se enquadram perfeitamente na ideologia do que seria o
"cidadão de bem".
Torturar, estuprar, consumir quilos de drogas e toda
aquela cartilha que já bem conhecemos são como nacos de gozo que funcionam para
subornar esses homens para que se mantenha a coesão da tropa, não que essas
práticas sustentem a tropa, a máquina militar, mas trata-se de uma regra que
vale para comunidades, para todas as comunidades humanas, evidente que a forma
é a mesma, mas seu conteúdo é sempre distinto. Esses soldados precisam de
regras implícitas não escritas, as quais nunca são publicamente admitidas, mas
são absolutamente cruciais para a identificação do grupo.
O conteúdo da ação dos militares não é algo que vá
contra sua cultura interna, ela é exatamente sua impressão no outro, no inimigo
externo, no povo preto. Entre os nacos de gozo que funcionam como maneira de
garantir a coesão dos militares (estando ou não na forma de grupos de
extermínio, até por que o próprio grupo de extermínio é uma pré-condição para a
construção de tropas militares) está o extermínio dessa construção social e
histórica que é raça negra e não poderia ser diferente tendo em vista esse aparelho
repressivo do Estado é fortemente atravessado pelo etnocentrismo ocidental.
MAIS E MAIS NORMAS QUE BUSQUEM CONTROLAR ESSES
MILITARES NÃO SÃO ÍNDICES DE QUE ESTAMOS CONSEGUINDO LIBERTAR O POVO PRETO. É A
FORMA, AS FORMAS, ELAS SIM QUE PRECISAM SER ATACADAS E DEMOLIDAS.
Não é apenas nossa falta de consciência quanto a
opressão vivida que reduz nossas lutas em disputa por migalhas, mas sim a falta
de consciência quando as vitórias possíveis. É mais do que necessário operar
uma perspectiva nova quanto a orientação para os fatos, uma perspectiva nossa,
de povo. Afinal, uma pessoa oprimida está deslocada quando opera de uma
localização centrada nas experiências do opressor. Cabe agência aos africanos
da ligação tanto interna como externa para ousar mais, lutar mais, tornar a
reivindicação, o desejo do africano, algo insuportável para a ordem existente.
Precisamos nos localizar na psique, no subjetivo, na cultura e na história.