Defesa de Políticas Culturais Estruturais do Hip Hop
Sumário Executivo
As vias de participação cidadã que o Fórum Hip Hop MSP tem utilizado ativamente desde 2005 estão presentes nesse documento. Ele tem como propósito apresentar uma defesa robusta para a inclusão e o financiamento adequado de cinco políticas culturais estruturais essenciais, centradas no movimento Hip Hop, conforme proposto pelo Fórum Hip Hop MSP:Difundir o Hip Hop - Elaborar políticas públicas de juventude - Inserir o Hip Hop como tema transversal da educação- Combater a discriminação de gênero - Organizar uma agenda do Hip Hop na cidade- Combater a discriminação racial- Atuar contra a violência policial- Gerar emprego e renda.Forma de destruturação do genocidio contra a população pobre, preta e periferica no Brasil.
A implementação destas políticas possui um potencial transformador significativo para impulsionar a inclusão social, estimular o desenvolvimento cultural, capacitar adolescentes, jovens, adultos e idosos a reconhecer formalmente o hip hop como um componente integral e vibrante do tecido cultural de São Paulo.
Introdução: Reconhecendo o Hip Hop como Elemento Estrutural da Cultura Paulistana
A cultura hip hop possui uma profunda significância histórica e uma vibrante relevância contemporânea na cidade de São Paulo, com raízes firmemente estabelecidas nas diversas comunidades periféricas. O Breaking, um dos elementos do hip hop, chegou ao Brasil nos anos 80 e ganhou popularidade em São Paulo, demonstrando a longa trajetória do movimento na cidade.
Os quatro pilares fundamentais do hip hop – DJing, MCing, Graffiti e Breaking – manifestam-se em formas multifacetadas de expressão artística, engajamento comunitário e inovação cultural. O hip hop desempenha um papel crucial como um poderoso veículo de comentário social, uma ferramenta vital para o empoderamento da juventude e uma plataforma essencial para a articulação das experiências e perspectivas de vozes marginalizadas em São Paulo.
A longevidade e a influência abrangente do hip hop, particularmente na formação do cenário cultural das áreas periféricas e na oferta de caminhos para a autoexpressão e a mobilidade social, ressaltam seu status como um elemento fundamental do tecido cultural de São Paulo.
O reconhecimento do hip hop como um elemento estrutural da cultura de São Paulo conduz ao desenvolvimento de políticas urbanas mais eficazes e culturalmente responsivas, que genuinamente dialoguem e fortaleçam uma parcela substancial da população da cidade.
Fórum Hip Hop MSP: Uma Trajetória de Luta e Resistência
O Fórum Hip Hop Municipal de São Paulo (Fórum Hip Hop MSP) foi criado em agosto de 2005 como um espaço de diálogo entre pessoas, posses, grupos e integrantes do movimento Hip Hop da cidade de São Paulo. Desde sua fundação, tem atuado como o principal órgão representativo na defesa dos interesses, do desenvolvimento e do reconhecimento da cultura hip hop dentro do município.
2005
Fundação do Fórum Hip Hop MSP como espaço de diálogo entre o movimento Hip Hop, movimentos sociais, instituições públicas, legistativo,judiciário e a administração pública municipal.
2006-2010
Consolidação do Fórum como principal articulador de políticas públicas para o Hip Hop na cidade de São Paulo.
2012
Participação na caminhada "10 D – Dez direitos que o estado não garante", articulando com outros movimentos sociais.
2015-2020
Atuação na defesa e implementação de políticas culturais estruturais para o Hip Hop, incluindo o Mês do Hip Hop.
2023-2024
Elaboração de propostas para o Plano Plurianual da Cidade de São Paulo 2025-2028, com foco em cinco políticas estruturais.
O Fórum Hip Hop MSP tem como objetivos estabelecer um diálogo entre os adolescente, jovens, adultos do Hip Hop e o poder público municipal, apontando na perspectiva da igualdade e autonomia do movimento por meio de iniciativas, ações e demandas concretas, com apoio do poder público. Também busca criar critérios públicos que direcionem a relação entre o poder público e trabalhadores culturais do hip hop, garantindo que não haja privilégios de uns em detrimento de outros setores.
Sob o lema "CONTRA O GENOCÍDIO DA JUVENTUDE POBRE, PRETA E PERIFÉRICA", o Fórum se posiciona contra a desigualdade social e a favor da valorização da cultura periférica, tendo conseguido inserir o Hip Hop como Política de Estado a ser contemplada nos espaços de formação, produção e difusão cultural.
Políticas Culturais Estruturais Propostas
O Fórum Hip Hop MSP propõe cinco políticas culturais estruturais essenciais para o fortalecimento e reconhecimento do movimento Hip Hop na cidade de São Paulo:
Casas de Hip Hop Municipais SP
Centros dinâmicos para a preservação da memória e o fomento à cidadania através das práticas do hip hop, com espaços dedicados para oficinas, estúdios, áreas de graffiti, palcos para apresentações e centros de memória.
Orçamento proposto: e manutenção de suas rubricas no orçamento da cidade.
Mês do Hip Hop
Desenvolvimento do Mês do Hip Hop para se tornar a maior política cultural periférica da América Latina, celebrando e amplificando as vozes de artistas marginalizadas pela ind~ustria cultural brasileira.
Garantia de participação equitativa e transparência na distribuição de recursos.
Território Hip Hop Vocacional
Implementação do programa Território Hip Hop Vocacional para oferecer formação artística e promover a formação de cidadãos.
Foco no desenvolvimento de habilidades técnicas e artísticas nos quatro elementos do Hip Hop.
Participação na Agenda Cultural
Garantia da participação consistente e equitativa de artistas periféricos do hip hop na agenda cultural mais ampla da cidade.
Inclusão em festivais, eventos e equipamentos culturais municipais.
Breaking como Modalidade Esportiva
Integração do Breaking como modalidade Esportiva dentro da infraestrutura dos Centros Educacionais Unificados (CEUs) e centros esportivos municipais.
Reconhecimento de seu status olímpico e promoção do engajamento dos cidadãos.
Base Científica das Políticas Propostas
As políticas culturais estruturais propostas pelo Fórum Hip Hop MSP encontram respaldo em diversos estudos acadêmicos e científicos sobre o Hip Hop como movimento cultural, social e político:
Estudos recentes demonstram que o Hip Hop está se consolidando como um campo de estudos acadêmicos no Brasil. Segundo a Revista Pesquisa Fapesp, o movimento completa 50 anos no mundo e começa a ser visto como "explicações sócio-históricas de como o Brasil funciona".
Os primeiros trabalhos acadêmicos sobre o hip hop no Brasil foram escritos na década de 1990, incluindo a tese "Invadindo a cena urbana dos anos 1990 – Funk e hip hop" (UFRJ, 1998) e estudos sobre rap em São Paulo (Unicamp, 1998).
Fonte: Revista Pesquisa Fapesp - "Hip hop começa a se consolidar como campo de estudos acadêmicos"
Pesquisas acadêmicas identificam três conflitos principais no movimento Hip Hop: a juventude pobre no contexto da sociedade de consumo; a mídia e sua relação com a indústria cultural; e a afro-descendência.
Estudos mostram que existem diferentes formas político-organizativas convivendo simultaneamente no movimento: associações, redes, posses (crews) e grupos, o que justifica a necessidade de políticas culturais estruturais que contemplem essa diversidade.
Fonte: SciELO - "Posicionamentos e controvérsias no movimento hip-hop" (Araújo Menezes & Rodrigues Costa)
Segundo o filósofo americano Shusterman, o Hip Hop rompe com a dicotomia entre arte e realidade, sendo que "um dos mais maravilhosos e profundamente revolucionários aspectos do hip hop é o desafio de seu dualismo."
A cultura hip hop, caracterizada como uma prática social promovida pelos jovens pobres, principalmente pelos jovens negros, atua no sentido de dar visibilidade à população negra, no sentido da constituição da identidade e no crescimento da autoestima do negro-descendente.
O Hip Hop enquanto manifestação cultural está associado à origem africana-diaspórica, vinculado ao conceito de "Atlântico Negro" de Paul Gilroy, o que justifica políticas culturais que reconheçam sua importância histórica e social.
Fonte: ProQuest - "Hip hop, arte e cultura política: expressões culturais e representações da diáspora africana" (Martins, Rosana)
As cinco políticas culturais estruturais propostas pelo Fórum Hip Hop MSP encontram respaldo científico nos estudos acadêmicos sobre o tema:
- Casas de Hip Hop: Espaços fundamentais para preservação da memória e promoção da cidadania, alinhados com a necessidade de territorialização e valorização da cultura periférica.
- Mês do Hip Hop: Política cultural que dá visibilidade ao movimento e promove a inclusão de artistas periféricos, combatendo a marginalização cultural.
- Programa Território Hip Hop Vocacional: Formação artística e cidadã que utiliza o Hip Hop como ferramenta educacional, alinhado com estudos sobre o potencial transformador do movimento.
- Participação na agenda cultural da cidade: Garantia de equidade e reconhecimento do Hip Hop como manifestação cultural legítima.
- Breaking como modalidade esportiva: Reconhecimento do status olímpico do Breaking e seu potencial para engajamento juvenil e promoção da saúde.
Conclusão
A inserção destas políticas representa uma oportunidade singular para institucionalizar o apoio à cultura hip hop, transcendendo iniciativas isoladas em direção a um investimento sustentável e de longo prazo.
Ao reconhecer formalmente o papel crucial do hip hop na construção comunitária, na promoção da coesão social e na oferta de oportunidades para o desenvolvimento juvenil, a cidade pode alavancar estrategicamente seu potencial para enfrentar desafios urbanos mais amplos e cultivar uma sociedade mais inclusiva e vibrante para todos os seus moradores.
O Fórum Hip Hop MSP, com sua trajetória de quase duas décadas de atuação, apresenta estas propostas com base em sua experiência e conhecimento profundo das necessidades da comunidade hip hop paulistana, respaldado por estudos científicos que comprovam a importância cultural, social e política deste movimento.
A implementação destas cinco políticas culturais estruturais na Cidade de São Paulo representa um marco histórico no reconhecimento e valorização do Hip Hop como patrimônio cultural da cidade, contribuindo para uma São Paulo mais inclusiva, diversa e culturalmente rica.