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terça-feira, 8 de abril de 2025

DADOS LEVANTADOS PELO DO FORUM HIP HOP MSP SOBRE A DROGADIÇÃO E O ENCARCERAMENTO EM MASSA E SEUS EFEITOS NA POPULAÇÃO BRASILEIRA DE 1998 A 2025

A Nova Política Criminal Brasileira sobre Drogas: Avanços ou Retrocessos? (2007-2025)

A Nova Política Criminal Brasileira sobre Drogas: Avanços ou Retrocessos? (2007-2025)



2. Impactos do Encarceramento por Crimes Relacionados às Drogas no Brasil

2.1 Dados do Sistema Prisional Brasileiro

Presos por Tráfico de Drogas por Estado

Mapa de presos por tráfico de drogas por estado brasileiro. Fonte: G1/Globo

O sistema prisional brasileiro apresenta dados alarmantes:

  • Em 2024, a população carcerária total do Brasil atingiu 839,7 mil pessoas
  • O Brasil se mantém como o terceiro país que mais encarcera no mundo, atrás apenas dos EUA e China
  • Cerca de 30% dos detentos ainda estão presos provisoriamente, sem condenação definitiva
  • Aproximadamente 200 mil pessoas estão presas por crimes relacionados ao tráfico de drogas

2.2 O Tráfico de Drogas como Principal Causa de Encarceramento

Perfil dos Presos por Tráfico de Drogas

Perfil dos presos por tráfico de drogas no Brasil. Fonte: G1/Globo

O tráfico de drogas se consolidou como o delito que mais contribui para o encarceramento no Brasil:

  • Aproximadamente um em cada três presos responde por tráfico de drogas
  • Segundo dados da Secretaria Nacional de Políticas Penais, o tráfico representa 23% dos delitos no sistema prisional
  • Desde a implementação da Lei 11.343/2006, houve um aumento de mais de 300% no número de presos por tráfico
  • A ausência de critérios objetivos para diferenciação entre usuário e traficante contribui para este cenário

2.3 Foco na Cidade de São Paulo

São Paulo apresenta particularidades no cenário nacional de encarceramento por drogas:

  • A cidade registra, em média, 17 suspeitos de tráfico presos ou apreendidos por dia
  • Em números absolutos, no primeiro semestre de 2024, foram detidas 3,1 mil pessoas por tráfico
  • O estado de São Paulo gastou R$ 3,7 bilhões com a guerra às drogas em 2023
  • Segundo pesquisas, o crack é a droga ilícita mais consumida na capital paulista, presente em 31% das respostas em levantamentos, seguido da maconha (9%)

Dados alarmantes: A cidade de São Paulo teve, em média, 17 suspeitos de tráfico de drogas presos ou apreendidos por dia durante o primeiro semestre de 2024. Em números absolutos, as forças de segurança detiveram 3,1 mil homens e mulheres, tanto em flagrante (2.945) quanto por meio de mandados judiciais (166) no período.


3. O Impacto nas Famílias Pobres e Adolescentes

3.1 Vulnerabilidade Socioeconômica e Drogas

Impacto nas Contas Públicas

Impacto nas contas públicas da adoção de critérios para tipificação do tráfico de drogas. Fonte: Fonte Segura - Fórum Brasileiro de Segurança Pública

Estudos demonstram uma correlação significativa entre vulnerabilidade socioeconômica e os impactos negativos da política de drogas:

  • Famílias que vivem em situação de exclusão social são mais vulneráveis a problemas relacionados ao uso e abuso de substâncias psicoativas
  • A criminalização afeta desproporcionalmente as populações mais pobres, com menor acesso a defesa jurídica adequada
  • Mulheres pobres e negras estão na ponta da superexploração do tráfico de drogas e expostas a diversas violências

Uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas revelou um paradoxo: embora 85% das pessoas que assumiram usar drogas sejam da classe A, o encarceramento atinge majoritariamente as camadas mais pobres da população.

3.2 Adolescentes e o Consumo de Drogas

O uso de drogas entre adolescentes apresenta características preocupantes:

  • As substâncias mais utilizadas pelos adolescentes são álcool, nicotina e maconha
  • O consumo de drogas pelos adolescentes aumentou nos últimos anos, com crescimento de mais de 12% entre meninas
  • O início precoce do uso de substâncias está associado a maior risco de desenvolver dependência e danos cerebrais em fase crucial de desenvolvimento
  • A maconha é referida como a droga mais consumida por aproximadamente 67% dos adolescentes usuários

Alerta: Ação das drogas no cérebro de adolescentes pode ser mais prejudicial devido ao desenvolvimento cerebral ainda em andamento. Existem diversas substâncias psicoativas, como o álcool, maconha e LSD que podem alterar ou comprometer permanentemente o desenvolvimento neurológico nessa fase crítica da vida.

3.3 Desestruturação Familiar

A política criminal de drogas produz efeitos devastadores na estrutura familiar:

  • O encarceramento de membros da família, especialmente das figuras parentais, compromete a estabilidade do núcleo familiar
  • A fragilização das relações, a desestruturação dos laços afetivos e as dificuldades financeiras são os problemas mais comuns
  • Pesquisa realizada pela Lenad Família revelou que pelo menos 28 milhões de pessoas no Brasil têm algum familiar dependente químico
  • O estigma social associado tanto ao uso quanto ao tráfico de drogas agrava a marginalização das famílias afetadas

Os dados mostram claramente que as famílias que vivem em situação de exclusão social são vulneráveis a problemas relacionados ao uso e abuso de substâncias psicoativas. O consumo de álcool constitui um dos graves fatores de risco para o adoecimento e morte em todo o mundo, principalmente entre os países mais pobres.


4. Análise Crítica da Política Criminal de Drogas (2007-2025)

4.1 Contradições do Modelo Atual

A política criminal brasileira sobre drogas apresenta contradições fundamentais:

  • Embora a Lei 11.343/2006 tenha despenalizado o uso de drogas, na prática, a falta de critérios objetivos para diferenciação entre usuário e traficante resulta em criminalização discricionária
  • O aumento das penas para tráfico não produziu redução efetiva no comércio ilegal de drogas
  • As abordagens policiais e judiciais são marcadas por viés racial e socioeconômico
  • O gasto público com encarceramento supera largamente os investimentos em prevenção e tratamento

4.2 Eficácia x Custo Social

Apreensões de Drogas no Brasil

Evolução das apreensões de drogas no Brasil. Fonte: Fonte Segura - Fórum Brasileiro de Segurança Pública

A avaliação da eficácia da política atual apresenta um quadro preocupante:

  • O tráfico de drogas corresponde a aproximadamente 4% do PIB brasileiro
  • Apesar do crescente número de prisões, o consumo de drogas continua em ascensão - globalmente, mais de 292 milhões de pessoas usaram drogas em 2022, um aumento de 20% em relação à década anterior
  • O custo social do encarceramento em massa inclui a desintegração familiar, o aumento da reincidência criminal e a perpetuação de ciclos de pobreza
  • O sistema prisional não cumpre seu papel ressocializador, funcionando muitas vezes como "escola do crime"

Impacto econômico: A pesquisa realizada pela Esfera Brasil e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública aponta que o tráfico de drogas corresponde a 4% do PIB brasileiro de 2021 - o cálculo considera o valor que seria arrecadado se toda a cocaína que passa pelo Brasil fosse exportada para a Europa.

4.3 A Questão da Saúde Pública

Há uma crescente percepção de que a abordagem prioritariamente criminal é insuficiente:

  • O uso problemático de drogas constitui uma questão de saúde pública que demanda abordagens integradas
  • Apenas uma em cada sete pessoas com transtornos por uso de drogas no mundo recebe tratamento adequado
  • O estigma e a criminalização dificultam o acesso precoce a serviços de saúde
  • A internação compulsória, privilegiada pela Lei 13.840/2019, apresenta eficácia limitada quando não integrada a outras estratégias terapêuticas

5. Perspectivas e Possibilidades de Mudança

5.1 Experiências Internacionais Bem-Sucedidas

Diversos países têm implementado abordagens alternativas com resultados promissores:

  • Portugal descriminalizou o uso de todas as drogas em 2001, redirecionando recursos da repressão para a prevenção e tratamento, com redução nos índices de uso problemático
  • O Canadá legalizou a maconha para uso recreativo em 2018, estabelecendo um mercado regulado com controle de qualidade
  • Uruguai implementou um sistema estatal de produção e distribuição de maconha, buscando enfraquecer o mercado ilegal
  • Suíça desenvolveu programas de prescrição de heroína para dependentes graves, reduzindo drasticamente as mortes por overdose e a criminalidade associada

5.2 Propostas para um Novo Modelo Brasileiro

Com base nas evidências científicas e experiências bem-sucedidas, algumas diretrizes poderiam orientar uma reforma da política de drogas no Brasil:

1. Estabelecimento de critérios objetivos para diferenciação entre usuário e traficante:

  • Definição clara de quantidades específicas para cada substância
  • Consideração de outros elementos contextuais além da quantidade

2. Fortalecimento da abordagem de saúde pública:

  • Ampliação da rede de Centros de Atenção Psicossocial para Álcool e Drogas (CAPS-AD)
  • Implementação de programas de redução de danos
  • Criação de alternativas terapêuticas diversificadas, reconhecendo que não existe solução única para todos os casos

3. Alternativas ao encarceramento:

  • Implementação efetiva de penas alternativas para pequenos traficantes
  • Criação de Tribunais de Tratamento de Drogas para Famílias
  • Desenvolvimento de programas de justiça restaurativa

4. Prevenção baseada em evidências:

  • Programas de prevenção nas escolas com abordagem científica e não moralista
  • Fortalecimento de redes de proteção para adolescentes em situação de vulnerabilidade
  • Campanhas de informação precisas e livres de estigma

5.3 O Primeiro Plano Nacional de Políticas sobre Drogas (Planad)

Em 2022, o Brasil implementou seu primeiro Plano Nacional de Políticas sobre Drogas, que traz alguns avanços:

  • Criação do Sistema Nacional de Prevenção às Drogas (Sinap)
  • Integração de boas práticas em um plano de ação de combate ao tráfico
  • Valorização de tratamento humanizado com foco na reinserção social
  • Abordagem intersetorial, envolvendo áreas de saúde, segurança, assistência social e educação

Inovação: O primeiro e mais importante eixo do Planad, o da prevenção, cria o Sistema Nacional de Prevenção às Drogas (Sinap). É uma plataforma com identificação e mapeamento dos principais focos de consumo no país para direcionar as ações de prevenção.


6. Conclusão: Por uma Política Humanizada e Eficaz

A análise da evolução da política criminal brasileira sobre drogas entre 2007 e 2025 revela um cenário complexo e contraditório. Se por um lado houve avanços na compreensão do fenômeno como questão de saúde pública, por outro, persistem abordagens punitivas que resultam em encarceramento em massa, afetando desproporcionalmente populações vulneráveis.

Os dados apresentados demonstram que a política atual produz custos sociais e econômicos expressivos, sem resultados proporcionais na redução do consumo e tráfico. A criminalização sem critérios objetivos contribui para a superlotação prisional e a discriminação socioeconômica, enquanto falha em proporcionar prevenção eficaz e tratamento adequado.

Uma política de drogas verdadeiramente eficaz e humana deve fundamentar-se em evidências científicas, respeito aos direitos humanos e compreensão das dimensões sociais, econômicas e de saúde do problema. A distinção clara entre usuários e traficantes, a priorização de estratégias de prevenção e tratamento, e a busca por alternativas ao encarceramento constituem caminhos promissores para mitigar os danos causados tanto pelo uso problemático de drogas quanto por políticas públicas inadequadas.

O momento atual, marcado pelo confronto entre a decisão do STF pela descriminalização da maconha para uso pessoal e a reação legislativa expressa na PEC 45/2023, evidencia a necessidade de um amplo debate social informado por dados e livre de moralismos. Apenas assim será possível avançar para uma política criminal sobre drogas que promova saúde, justiça e bem-estar social.


Referências

  1. Brasil. Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006. Planalto
  2. Brasil. Lei nº 13.840, de 5 de junho de 2019. Planalto
  3. PEC 45/2023. Altera o art. 5º da Constituição Federal. Senado Federal
  4. Secretaria Nacional de Políticas Penais. Levantamento de Informações Penitenciárias. Gov.br
  5. Relatório Mundial sobre Drogas 2024 do UNODC. UNODC
  6. Brasil tem o primeiro plano nacional de políticas sobre o uso e o combate às drogas. Gov.br
  7. STF define 40 gramas de maconha como critério para diferenciar usuário de traficante. STF
  8. Um em cada três presos do país responde por tráfico de drogas. G1
  9. Percepções de famílias de baixa renda sobre o uso de drogas. SciELO
  10. Guerra às drogas consumiu R$ 3,7 bilhões de SP em 2023. G1

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