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terça-feira, 9 de julho de 2013

Questão Feminina



Miguel  Angelo






...Somente Modo de Expressão Não. Aqui o Rap é Protesto e Manifesto!
(CDR MC’s – É o Rap)

“Demagogia nunca fiz, só falo o que vivo.”
(Quero Ver - Negreestyle)

Jovens de idade entre 18 e 25 anos; pardas (leiam-se negras); com um ou dois filhos; não aceitas como são no sistema público de educação; trabalhando sem carteira assinada e ganhando um salário que acaba não cobrindo gastos básicos como alimentação e moradia; sem título de eleitor (que, em tese, é o documento que garante a cidadania do indivíduo); sem documento algum, alias, quando presa na maioria das vezes por tráfico, mas também por furto e roubo. Tráfico aqui se entenda; pequeno porte, muitas 
vezes para consumo próprio, e ainda muitas vezes essas mulheres são presas também por tentar levar a droga no jumbo do marido em dias de visita. Ora, para tanto, sabemos qual é a cartilha do gambé; humilha, bate, algema e sequestra em seu navio negreiro “SOS Chevrolet Blazer”. Nunca questionam sobre como se produziu uma situação e só mais tarde, quando algum pesquisador encontra-la para produzir um TCC, é que ela terá sua versão exposta. Irei expor aqui algumas evidências para que possamos caminhar com cada vez mais certeza de que essa não é uma realidade só estadual ou 
nacional e sim mundial. Existe algo que é comum no sentido estrutural no mundo em que vivemos? Sim, ele é capitalista, e para essas mulheres “quantas prisões estão sendo forjadas” como diz Sankofa que reconhece que elas “para o Estado é só um número e mais nada”. Exatamente isso, e como esse Estado burguês insiste em garantir o lucro combatendo a consequência e não a causa e situação perpetua. 
Veja que curioso esse trecho inserido pela (SAP) Secretaria da 
Administração Penitenciária em sua página na internet que fala sobre a inauguração das penitenciárias femininas de Pirajuí (13/07/12), Tupi Paulista (16/08/11) e Tremembé II = 768 vagas;
“A construção de unidades prisionais é uma responsabilidade que todos precisam assumir: O Governo, as prefeituras e a sociedade. Ela envolve o respeito às leis, a manutenção das ações de segurança pública e a proteção da população”.
Secretaria de Administração Penitenciaria SAP 2013.
Isso é sério? Querem mesmo que “todos” sejam responsáveis por 
encarcerar mulheres nas circunstâncias expostas acima em nome da lei, da manutenção das ações de segurança e da proteção da população? Sim, ainda que as mulheres tenham sido ponta de lança das lutas em nossa história como Dandara, que guerreou bravamente contra os colonizadores e se suicidou na prisão por não aceitar a condição de escrava, Luísa Mahin, que também foi presa por lutar nos levantes insurrecionais dos Malês e na Sabinada (meras notas de rodapé de nossos livros de história de orientação eurocêntrica), até Maria da Penha “paraplégica pela violência doméstica” como bem lembra as lutadoras do Rimação, essa que teve sua experiência canalizada na luta pelos direitos das mulheres traduzida na lei 11.340 ainda tão longe de se efetivar. 
Todas elas vítimas do um sistema “Rico, católico, conservador e que ama as armas” como bem lembra o Rapper Pirata em “Boneca de Porcelana”.

Fecho essa introdução deixando claro quem melhor expôs para nós 
essa situação das mulheres. Foram anos e anos de pesquisa acadêmica árdua de marxistas e folcaultianos que nos revelou o atual quadro? Institutos de Pesquisa e suas ONGs estadunidenses de “Direitos Humanos”? Não, quem primeiro nos apresentou esse quadro foi a ferramenta filha do desenvolvimento de elementos culturais de raízes africanas que se difundiu por todo o chamado 
“Novo Mundo” a partir holocausto negro iniciado no séc XV para ganhar diversos moldes e culminar no que hoje chamamos de Rap, ferramenta essa inserida no bojo do Hip Hop que se traduz como porta voz dos que sofre a situação tratada nesse escrito, mas também de tantas outras que fazem parte da cartilha do genocídio do povo negro que é uma política oficial do Estado Burguês aplicada antes em quilombos e hoje também nas periferias. O que os pesquisadores, logicamente fundamentais, (considere um ao quadrado positivo para os marxistas e um ao quadrado negativo para as ONGs) fizeram foi duvidar demais, ai quando o demônio mostra a cara todo mundo se diz surpreso. Nada disso diz respeito ao hoje, é como se o mano Yamada estivesse desafiando esses que duvidam da nossa cultura como forma de entender a sociedade ao afirmar que “quem duvidou de mim passou mal”. De fato, mais de vinte anos falando das fita, eai? Continuam duvidando. 

Drogas
“Aqui sou mais um réu, me põe em julgamento”.(Próximo Nível - Afavel)
Ao olhar por ai podemos notar que a relação droga-mulher não é só 
coisa nossa. Columbia, no Canadá, por exemplo, vem publicando relatórios a mais de dez anos apresentando essa relação. Até o campeão mundial de pessoas encarceradas, EUA, não nega isso também. Eles tinham mais de 1 milhão de mulheres em liberdade condicional no começo do século tendo mais de 90 mil presas com as taxas aumentando progressivamente. Não é novidade lá também o fato de que as mulheres são cada vez menos presas por outros 
delitos como homicídio, sendo que as penas aumentam lá para a questão das drogas na medida em que aumentam também os poderes arbitrários de seu Ministério Público, logo, três vezes mais mulheres negras são presas em um país onde os negros em geral são uma minoria (13% da população feminina dos EUA são negras, mas nas penitenciarias femininas compõem 48% do total). Adivinha a quem eles culpam por isso? Ora, nada mais nada menos que a política de “Guerra as Drogas”, mais curioso ainda é que lá, e muito 
provavelmente aqui também, todos os grupos étnico/raciais consomem drogas na mesma proporção. Proporcionalmente também a taxa de crescimento de mulheres encarceradas lá só entre 1986 (ano em que o então presidente Ronald Regan assinou a Guerra as Drogas com um investimento de 2 bilhões de dólares) e 1996 foi de 888% para tráfico contra 129% para outros crimes, sendo que o período da mulher presa acaba sendo maior mesmo com a de Lei de Informação (visa desmantelar grandes redes de narcotráfico através da oferta de informações que o réu possa dar em troca de uma redução da pena) pois elas, ocupando cargos mais baixos no processo de circulação da droga acabam não tendo informações relevantes. Para a mulher negra o martelo do juiz é uma tonelada mais pesado afinal. Sendo que para, por exemplo, o crack, que a justiça estadunidense chama de “droga do negro pobre” basta a mulher portar algo em torno de dez a cinquenta doses para ficar cinco anos encarcerada (ainda que dois terços do consumo dessa droga seja realizado por brancos e latinos, os negros e negras representam 82% das condenações), enquanto que para a cocaína, que essa mesma justiça considera “uma droga utilizada pelos brancos dos estratos sociais mais altos” a dose para pegar cinco anos de prisão é mil vezes maior, o que provocou o absurdo que é o negro cumprir em média 58,7 meses de prisão por tráfico enquanto os brancos cumprem quase a mesma coisa, 61,7 meses, só que para crimes violentos, ou seja, uma diferença de apenas 0,76% de pena para crimes extremamente distintos no que diz respeito o critério de reclusão. Lembrando ainda que o país dos “Direitos Humanos” prende 95% dos réus por arbitrariedade do promotor, 
nem julgados são. Muitíssimo curioso, pois suas ONGs de Direitos Humanos reduzem os problemas de arbitrariedade de países Africanos como Guiné Equatorial e Angola argumentando que falta lá autonomia ao judiciário, quando na verdade sua própria nação reproduz a tal arbitrariedade mesmo tendo a tal autonomia, deixando explícito o caráter de cor, classe e gênero que a justiça 
estadunidense aplica aos réus. No Reino Unido, que reduziu, juntamente com os países baixos, o número de presas flexibilizando o sistema penitenciário para que cada vez menos mulheres fiquem em regime fechado freando a superlotação dos presídios, ainda apresenta altos índices de mulheres em prisão preventiva. O número de mulheres presas na Europa vem caindo, apesar de estar longe do 
ideal, justamente por ações de redução de danos que discriminalizam o usuário de drogas adaptando o porte para uso pessoal como é o caso da Holanda que com a medida impulsionou a rede de saúde mental reduzindo ainda o número de presos e presas por homicídio, mesmo com a presença de crimes desse tipo, entre outros, que voltou a aumentar por lá como também, ao menos proporcionalmente, no resto do mundo por questões da crise capitalista que vou trazer em outro tópicoSe olharmos para o texto jurídico que institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas de agosto de 2006 no Brasil, iremos notar o caráter repressivo para a questão onde a ótica para elaborar uma política pública, por mais enfeites democráticos que forjem no documento, mantêm-se plenamente restritivo só garantindo a inimputabilidade (condição onde o réu não pode ser considerado culpado de uma ação) para cultivo de substâncias psicoativas na utilização de forma ritualista-religiosa seguindo as orientações dos demagogos das Nações Unidas uma vez em Viena na Convenção de 1971. Se nesse âmbito, o de construir um programa intersetorial com plena participação social para responder uma questão crítica na sociedade, a visão é essa imagine os quilos de legislações que partem do mesmo princípio. Pensando dessa forma é muito difícil “Desenvolver, adaptar e implementar diversas modalidades de tratamento, recuperação, redução de danos, reinserção social e ocupacional dos dependentes químicos e familiares às características específicas dos diferentes grupos: crianças e adolescentes, adolescentes em medida socioeducativa, mulheres, gestantes, idosos, pessoas em situação de risco social, portadores de qualquer comorbidade, população carcerária e egressos, trabalhadores do sexo e populações indígenas, por meio da distribuição descentralizada de recursos técnicos e financeiros” como prevê o substitutivo de 2010. 
Esse ano já são quase 20 mil “infrações” registradas por tráfico de 
drogas e mais de 4 mil só no mês de maio e só no Estado de São Paulo, um número que só é absurdo pois basta ser negra e ser usuária para ser traficante, negra e pobre então é duplamente qualificado para os porcos.Antes de prosseguir é preciso trazer outros fatos relevantes para compreender o motivo da política retrógrada sobre drogas pelo mundo. O capital do narcotráfico é de algo em torno de 1 trilhão de dólares, o equivalente ao PNB brasileiro (soma total de todos os bens e serviços produzidos no país em doze meses), se colocássemos na conta as armas, demais tipos de contrabando e a prostituição a cifra sobe muito além disso. 
Esse dinheiro todo não tem outro destino que não os mercados especulativos, daí via bolsa de valores caem direto nos bancos e nos famosos paraísos fiscais. O próprio EUA, que lançou a “Guerra as Drogas” foi o mesmo que invadiu o Afeganistão e derrubou o governo Talibã que havia erradicado o plantio da papoula (base do ópio, droga que o país foi o maior produtor) e como num passe de mágica o país voltou a exportar ópio. E você sabe que sentido faz isso? Então, o dinheiro da venda do ópio afegão hoje serve para os EUA comprar armas para invadir outros países. Logo aqui em cima temos a Colômbia que pediu para os EUA construírem uma base lá com o argumento de enfrentar o narcotráfico, mas por incrível que pareça, tinha um presidente que era ligado aos cartéis de drogas na época, o senhor Álvaro Uribe. Até agora ninguém conseguiu provar que o controle do narcotráfico mundial não seja apenas da Central de Inteligência das EUA (CIA), pelo menos depois da morte do colombiano Pablo Escobar em 1993. Isso é só o começo, recentemente um jornalista italiano escreveu um livro contando como que muitos bancos usaram o dinheiro do narcotráfico para evitar a bancarrota em 2008. 

Saúde
“A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”.
Constituição Federal de 1988

Nenhuma palavra sobre presos e presas na Carta dos Direitos dos 
Usuários da Saúde lançada em 2011, pelo então Ministro da Saúde José Gomes Temporão. Porém, a recomendação da OMS (Organização Mundial da Saúde) em 2003 afirma que "Os reclusos devem ter acesso aos serviços de saúde disponíveis no país, sem discriminação em razão da sua situação jurídica", mas ainda que estivesse algo específico no que diz respeito a pessoas encarceradas sabemos que a situação da saúde entre presos e presas é deplorável, e já o é não só em consequência das doenças preexistentes (25,8% dos presos e 37,0% presas ingressam no sistema carcerário com alguma doença e não tem nenhum acompanhamento clínico no 
Estado de São Paulo, destas presas 56,1% já vinham sendo acompanhadas antes de ingressarem no sistema carcerário, sendo mais comuns problemas respiratórios dos mais variados 25,0%, problemas psiquiátricos 13,2% e hipertensão 11,0%), mas também pelas torturas físicas e psicológicas que passam em todo o decorrer do processo que vai do flagrante até a soltura, agressões essas executadas pela polícia. Como se não bastasse toda a barbárie a qual as mulheres passam no processo que vai da apreensão até a condenação ainda são obrigadas a viver no limite dentro do sistema carcerário. No que diz respeito aos materiais de higiene pessoal chega a ser gasto apenas algo em torno de 50 reais anualmente por presa para atender essa demanda, o que se traduz na já tão 
comum utilização de miolo de pão ou sacolas plásticas substituindo a ausência do absorvente, miolo de pão ou sacolas plásticas em lugares aonde uma presa chega a ter apenas 2 metros de papel higiênico para utilizar anualmente, isso em um Estado que gasta mais de 556 milhões de reais anualmente no sistema. 
As pesquisas globais apontam que praticamente em todos os países a maioria das mulheres encarceradas tem idade fértil e já sofreram abuso sexual, e isso vale tanto para o Brasil como para o Canadá. É interessante comparar aquele com esse país tão cheio das aparências, pois lá a maioria das mulheres encarceradas o foi por envolvimento com drogas, a maioria é aborígene (minoria étnico/racial que representa 13% da população local e mais de 40% da população encarcerada), pobre, com péssimas condições de moradia e são mães. Lá, assim como aqui, as mulheres encarceradas são um dos grupos de maior prevalência no que diz respeito Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST’s). A última pesquisa realizada pela Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo nos presídios femininos mostrou que a prevalência constatada de 
HIV foi de 4,8% e de sífilis, 5,7%. Segundo a mesma, o índice de pessoas com o vírus da Aids (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) e outras DST’s é maior na população carcerária que em indivíduos livres. Segundo os dados da Pastoral Carcerária, soropositivos perfazem 1,9% (22 casos) da população carcerária, o que representa uma enorme desproporção ante os dados para a 
população geral da região Sudeste do país, que é de 19,9 casos para cada 100 mil habitantes. Entre as atrocidades do sistema carcerário de São Paulo consta inclusive o caso de uma presa que ficou definhando com uma doença degenerativa em decorrência da ausência de um documento comprobatório da referida patologia
Não é novidade a mulher encarcerada perder o direito sobre seu próprio filho quando presa aqui e em diversos países espalhados pelo mundo. O Canadá retira a guarda de mais de 20 mil mães ao ano em decorrência do encarceramento. Número esse que é diretamente proporcional ao número de presas que só veem aumentando no mundo. Essa situação provoca sérias consequências para o desenvolvimento dessas crianças e torna mais traumático o período de reclusão aumentando ainda a chance de reincidência. 
Com isso segue-se a cartilha estadunidense optando por um Estado que cruza seus vastos braços quando se faz necessário responder as demandas mais cruciais de reintegração na sociedade que são; a condição digna de moradia e renda mínima; promoção de acesso a uma rede mínima de sociabilidade e de luta contra o estigma social; abertura das políticas públicas e do direito de liberdade condicional. Em São Paulo ainda a maioria das presas grávidas não 
faz pré-natal quando encarceradas, direito esse garantido mais pela construção social da criança como capital social, ultrassexista e machista (que já começa no próprio ambiente carcerário que na grande maioria das vezes abarca mulheres em um espaço concebido por e para homens), do que pela responsabilidade do Estado quanto à saúde da mulher (e não só da mulher quando mãe), ainda sim um direito negado.Quando uma mulher está no sistema carcerário e precisa de atenção médica o discurso do Estado é automático; “faltam recursos materiais e humanos”. Ora, ouvimos isso aqui, onde nem existe uma política concreta para essa questão, assim como ouvimos também no Reino Unido, Canadá, Cuba
entre outros países que tem os melhores sistemas de saúde no mundo, mas que até hoje “envidam” esforços sem conseguir responder a demanda, lembrando que Noruega, Reino Unido, França e alguns lugares na Austrália já transferiram a responsabilidade pela saúde das presas do Ministério da Justiça 
para o Ministério da Saúde, medida essa que representa resultados ainda modestos. 
Pensando as demandas cruciais no diz respeito à saúde da mulher 
enquanto percorre o processo que vai do encarceramento até a liberdade nosso perfil e o canadense parecem não diferir muito, sendo;• Vícios e Saúde Mental. 
• HIV, hepatite e outras infecções.• Cuidados de saúde na prisão.• Vida profissional e reinserção na sociedade. • Crianças, família e relacionamentos.Sendo que essas questões, que ainda não foram superadas em nenhum lugar no mundo que eu tenha conhecimento (apesar de que o Canadá reconhece a questão como problema fundamental e vem a anos lutando contra a desumanização que o sistema carcerário impõe as mulheres), determinantes claros da possibilidade ou não de reintegração e reincidência.

Capitalismo

“Pelo povo. por justiça, até fim, até a glória”.(Próximo Nível - Afavel)

Importante colocar aqui que ascenso do encarceramento em escala 
mundial ocorre justamente no contexto em que surgiu o “capital portador de juros”, fase do capitalismo que apareceu em resposta a crise de 1970 (a década anterior foi a “fase de ouro do capitalismo”, de lá prá cá só tivemos crises que são efeitos dessa fase aguda) que impôs a necessidade de refundar o Estado, alterar as relações sociais e redesenhar as classes sociais como um todo, é em síntese o que chamamos de neoliberalismo. Nos anos 1980 a direita radical chega ao poder nos Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha, e começaram a fazer prescrições neoliberais em resposta à crise; corte de impostos diretos, desregulação de mercados laborais e financeiros, debilitação de sindicatos, privatização de serviços públicos. Justamente nesse período o Brasil sofreu com o aumento da inflação provocado pela fragilidade do setor público o que criou um discurso da falência do setor público. Foi o freio do 
desenvolvimentismo (dentro do qual o proletariado forjou uma primeira agenda social) e a sinalização ao que viria a culminar na adesão plena ao Consenso de Washington em 1990.
A receita do Consenso é simples; combate à inflação. O resultado foi a destruição da agenda social no mundo, ou seja, do Estado de Bem Estar, e a constituição de um “”exército” de pessoas à margem. Aqui, no biênio 1985/1986 período da saída do regime militar, a Escola Superior de Guerra deixa um documento ao governo civil afirmando que a inserção de um país de capitalismo dependente como o Brasil no modelo neoliberal exige um reforço 
maior no aparato militar e carcerário em decorrência do inevitável aumento da massa desempregada e sem proteção social que viria nos próximos anos, ou seja, o Estado só poderia oferecer repressão e celas a população desassistida.É nesse mesmo biênio 1985/1986 que são instituídos grupos de trabalho para o processamento de uma agenda de ímpeto reformista visando superar a óptica deixada pelos militares. Na formatação desta agenda, as comissões que agrupavam setores ligados à assistência social, saúde e previdência ganham maior espaço. Podemos evidenciar tal aspecto visto que houve a inserção, por exemplo, das comissões referentes à assistência social e previdência ao Ministério da Previdência e Assistência Social e sua colaboração direta nos trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte, resultando em avanços importantes com relação aos direitos trabalhistas e principalmente quanto ao direito social, onde são apresentados pela primeira vez os objetivos de universalidade e equidade, olhando universalidade no sentido de cobertura e atendimento e equidade quanto à participação e custeio. Porém muito disso acaba ficando mais do plano jurídico-legal tendo em vista a conjuntura internacional que acabou barrando a consolidação plena do processo. É extremamente importante reconhecer essa articulação mundial para entender como a proposta materializada na Constituição Federal de 1988 era ousada para o período. 
Países aparentemente imunes ao desmonte neoliberal como a Escócia e País de Gales só viram o número de pessoas encarceradas aumentarem (País de Gales teve mais oscilações no período) já na segunda metade da década de 1960, as mulheres sempre são as mais encarceradas proporcionalmente sendo que entre 2011/12 houve um aumento acima de 60% para um e de 2,3% para o 
outro. Se pegarmos só a Inglaterra, notaremos que lá houve queda, porém essa queda ainda não chega a equiparar os números do período anterior a década de 1960. Mesmo a Holanda que criou “escudos” para evitar a expansão do encarceramento de mulheres (mecanismos jurídicos de renúncia de acusação, sistemas de filas para evitar superlotação e flexibilização de licenças e indultos) só deu certo até 1980, quando a crise econômica chegou a as taxas 
de encarceramento triplicaram. Eles reconhecem que a fase atual do capitalismo inviabiliza utilizar o sistema carcerário para outra coisa que não um depósito de vítimas do colapso social e mesmo sendo um país que mantém apenas uma mulher por cela e que a partir de 2003 liberou mais de 50 mil pessoas da prisão preventiva para a condicional continua ainda ligado a influencia de sistemas penais como o estadunidense e o inglês.De modo geral as taxas de encarceramento não aumentaram somente em decorrência de mais prisões mais também pela desaceleração de processos e aumento indevido da pena para os encarcerados desde 1970.Por aqui, o aumento global nos últimos 5 anos é de algo em torno de 40%, a maioria dos presídios são violentos e superlotados e já temos mais de 500 mil presos em nível nacional, destes 175 mil são presos e presas de caráter preventivo, número esse que justifica a superlotação. Mesmo reconhecendo que a tortura no sistema carcerário é a práxis na maioria dos países, o Brasil consegue se destacar com uma verdadeira cultura da prática disseminada em cada centímetro quadrado dos cárceres do país, que por pressão internacional escreveu um projeto de lei que cria o Mecanismo 
Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (uma equipe que faria auditorias surpresa nos presídios para averiguar alegações de torturas e maus-tratos) que aguarda votação no Senado Federal. 
Vamos fechar aqui olhando para os números de encarceramento dos famosos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) os tais países em desenvolvimento e que estão cada vez mais distantes das conquistas sociais dos países desenvolvidos, ainda considerando a agenda reduzida no plano social global. Todos têm desigualdades de gênero em quase todos os setores, logo, as mulheres jovens pobres sofrem a opressão do cárcere dentro e fora do sistema. Esses números englobam tanto homens como mulheres, lembrando o 
descrito acima quando é afirmado que, proporcionalmente, são mais mulheres presas do que homens. 
-Brasil = 500 mil, é o 4° colocado mundial, 1° na América do Sul e 2° nas Américas. 
-Rússia = 806 mil e100, é o 1° na Europa e o 3° no mundo.
-Índia = 384 mil e 753, só ficando atrás na China na Ásia, 5° mundo.
-China= 1 milhão 650 mil, é o 1° na Ásia e o 2° no mundo.
- África do Sul = 159 mil e 265, 1° na África 
Esses países só perdem para o campeão mundial, o já citado EUA com mais de 2.292,133 pessoas presas. 
É preciso considerar que nosso capitalismo difere do vigente desde a última crise societária ocorrida na segunda metade do século XX. O neoliberalismo forjou instrumentos para desmantelar as conquistas do proletariado mundial, mas apresentou em seu interior novos elementos para a resistência assistida hoje no século XXI. As experiências do M15 na Espanha, do Occupy Wall Street nos Estados Unidos, da Primavera Árabe no Magreb e do MPL hoje em nosso país, apresentam uma resposta a nova configuração imposta aos Estados e Sociedades nacionais, perspectivas essas que ganham 
cada vez mais força a partir da criação do Fórum Social Mundial em 2001. É levar em conta esse novo acúmulo, devemos reconhecer avanços e recuos nesses movimentos sem esquecer que historicamente ainda não obtemos uma alternativa de ação que supere a do partido revolucionário. Aos Movimentos 
Sociais cabe travar a luta pela orientação cultural da sociedade no
neoliberalismo, ou seja, contra o individualismo, a fragmentação social, a submissão e a desmobilização política, esses que são pilares centrais dos valores culturais inseridos por esse sistema nas sociedades modernas. Logo, é importante reconhecer que não estamos imunes neste processo. Dos partidos aos “coletivos horizontais” o conflito entre o individual e universal se perpetua, 
a autocrítica permanente teve ser o instrumento mais fomentado durante o processo que se abre em nosso horizonte.Não podemos superar isso sem olhar para a agenda social e tampar os buracos (sou pessimista para o Brasil, pois a agenda social brasileira é a mais golpeada que conheço). Nesse momento eu já comprei que nem a socialdemocracia nem o PT e nem democracia burguesa é capaz de responder o mínimo, é questão de tempo para saber se a crise vai acabar com mais capitalismo ou com o cumprimento da missão histórica do proletariado, onde as mulheres, principalmente as negras, terão um papel fundamental na construção da nova sociedade socialista rumo ao comunismo que o futuro nos reserva.
“Vamos à revolução, todos munidos de informação.”

“(...) porque toda revolução começa com um livro e termina 
com um fuzil na mão”.
Força Ativa – Vamos à Revolução.

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