“Se
não há autocrítica, nós fazemos a crítica”.
Wellington Komunist
cientista social e ativista do Coletivo de Esquerda Força Ativa e membro do
fórum hip hop SP
Essa
breve reflexão surge no atual cenário da conjuntura política brasileira marcada
por mais duas derrotas do partido dos trabalhadores: o processo de impeachment
e o saldo negativo nas eleições municipais.
Mesmo
a partir das várias derrotas que o partido tem colecionado sua militância fiel,
seus membros partidários, não traçam autocríticas, não refletem sobre a própria
prática, que em certo sentido, tem levado o partido a se equiparar com as
velhas formas de representação partidária até mesmo de setores mais
conservadores, da velha política tradicional que se arrasta pela história
política brasileira.
Cabe
anunciar também que antes de tudo, existe vida para além do PT, existe luta
para além do PT, é necessário este lembrete num momento crucial que nós estamos
presenciando.
Praticamente
as últimas eleições para presidente onde o PT se saiu vitorioso com e reeleição
de Lula e as vitórias de sua sucessora Dilma Rousseff, temos nos deparado com
alguns argumentos e acusações a quem no campo da esquerda tenta buscar outra
alternativa, seja no voto nulo ou em algum candidato de outros partidos da
chamada “esquerda”, isso se tratando de pleito eleitoral, sabemos bem que a
luta vai muito além.
Por
outro lado, faz-se necessário apontar que quando falamos em “esquerda” estamos
nos referindo a um tipo de “esquerda” dentro do que é oferecido no jogo da
democracia capitalista.
Para
quem visualiza outras alternativas que não seja o PT são acusados pelos
“petistas” de fechar com a direita, de ser responsável por uma possível derrota
do PT, por não querer unidade na “esquerda”, uma vez que só em torno do PT é
possível unidade e entre outras acusações.
Parece
que nos tornamos refém de um partido político que não representa mais os
anseios da classe trabalhadora, a isso não existe mais dúvidas, basta
analisarmos as alianças que o PT realizou com os setores conservadores em nome
de uma suposta governabilidade, na verdade, se rendeu as regras de
funcionamento da democracia capitalista que precisa de um gestor capaz de encampar
a fórmula mágica do Capital: crescimento econômico e tutela da classe
trabalhadora, dos movimentos sociais.
Pelo
menos por um tempo, o PT era o partido que mais teve êxito em manter uma
política em prol de algumas frações da burguesia brasileira, após não ser mais
capaz de trazer essa tranquilidade para classe que domina, o próprio partido
foi arrancado de forma brusca da gestão do Estado.
Mesmo
antes do golpe temos que lembrar que a própria Dilma, iniciava uma agenda
contra a classe trabalhadora que estava sendo chamada de “ajuste fiscal”.
Basicamente num ato de desespero, talvez, para ter apoio político de uma base
que já não o sustentava, o próprio Lula que a antecedeu, se aliou com os
setores conservadores e na época seu discurso esteve totalmente alinhado com os
anseios dos grupos empresariais de um lado, e do outro, tentava ali contemplar
a classe trabalhadora, essa dúbia política pode ser simplificada a nível dos
programas sociais, ou seja, para a existência de um bolsa família haveria que
ter uma “bolsa empresarial”.
Passando
pelo resultado das eleições municipais o que vimos foi mais uma derrota do
partido dos trabalhadores. Ainda muitos militantes acreditam no partido, alguns
argumentos vem de cunho emocional de pessoas que mantém vínculo afetivo com a
história do partido que ajudou a fundar e a construir.
Não
assumem que a derrota, em certa medida, é obra de práticas equivocadas do
próprio partido e que se reflete no resultado de suas ações.
Os
petistas precisam justificar sua derrota e o faz culpando os outros, não
refletem sobre a própria prática, não faz uma correta avaliação, acusam quem
optou pelo voto nulo, acusam a população periférica de não ter consciência
(como se isso fosse possível), procuram por todos os meios se eximirem dos
próprios equívocos se colocando moralmente a cima de qualquer erro.
São
nessas brechas que moram a arrogância petista, a prática de apontar o dedo e
procurar culpados fora de seus círculos, isso não vem de hoje, já vem há mais
de uma década, nos querem reféns de suas práticas, nos colocam numa visão
reducionista da realidade e de total maniqueísmo: ou o PT ou o retrocesso.
Até
quando teremos que ser refém de um partido dos trabalhadores que não representa
a classe?
E
quando fazemos as críticas somos novamente rotulados e acusados. Por isso, que
aqui é necessário retornarmos uma ideia do início do texto: “existe vida,
existe luta para além do PT”.
Não
vou aqui entrar no mérito da gestão do PT desde a eleição de Lula, é nítido
alguns avanços, mesmo que de forma bem limitada, com os programas sociais, ao
mesmo tempo o avanço dos lucros da burguesia, isso é visível, porém os métodos
para se manter na gestão do Estado foram os já conhecidos há tempos.
O
PT com suas alianças conseguiu ressuscitar vários partidos da ordem burguesa
que eram, até então, inexpressivo na política, bem como algumas figuras da
política tradicional ultrapassadas, graças ao PT voltaram a ter interferência
em setores estratégicos do governo.
A
política de trocas de apoio por cargos vieram nessa linha, em contrapartida, o
partido vai se putrificando a cada processo eleitoral, enforcando-se nas
próprias cordas, golpeado pelo vice de sua chapa, como diria o ditado “seria
cômico se não fosse trágico”, se afasta dos movimentos sociais rompendo
diálogos, mesmo com movimentos do porte do MST (Movimento dos trabalhadores
rurais sem terra) que sempre o apoiou publicamente.
Concordando
neste aspecto com Frei Betto que em seu artigo (Nós erramos) diz que:
“Fomos contaminados pela direita. Aceitamos a
adulação de seus empresários, usufruímos de suas mordomias, fizemos do poder um
trampolim para a ascensão social”.
Esse
e outros pontos deve entrar numa avaliação sobre o partido, sobre suas
práticas, se assemelhando a condição de partido que se utiliza das velhas
práticas elitistas da direita conservadora para se manter na gestão do Estado.
Portanto,
se não há auto crítica é nosso dever fazermos a crítica, mesmo sabendo das
acusações que iremos sofrer de uma visão míope e dogmática de seus fiéis
militantes petistas que ainda esperam uma espécie de “refundação do partido”,
de uma suposta disputa que possa levar o partido para a esquerda. Sabemos bem
que para quem ajudou a construir um partido desse porte, dedicando sua vida há
décadas de luta, é bem difícil se colocar numa outra posição, porém, pelo
avanço das lutas é necessário visualizarmos outros horizontes, para o atual
momento tudo indica que o PT não nos representa.
Outubro
de 2016
Um comentário:
Creio que Wellington Komunist fez um texto, muito fiel ao pensamento de muitos que ajhudaram a construir o PT e votaram em seus parlamentares, Lula e Dilma. Tenho a acrescentar que diferente daquele ditado que diz: "É o olho do dono que engorda seus porcos". Não estou aqui chamando ninguém de porco, até porque, apostei neste projeto até a primeira eleição do Lula, depois afastado, ainda dei-lhe um voto de confiança na reeleição. Com Dilma não, votei nulo 02 vezes.
A expressão quer dizer por outros caminhos, o mesmo que "Quem ama, cuida". A direção e a militancia pequenoburguesa e intelectual do PT, não cuidou de seu patrimonio social, pois achou que bastava seu paternalismo: Deixem que faremos tudo por vocês! Ou enquanto davam um frango a mais para o pobre [uma conquista é verdade], distribuia o peso do mersmo em diamantes para os ricos, numa gradação de dimensões que ia dos R$ 14 bilhões de reais de financiamento á agricultura familiar [responsavel por 90% da comida na mesa do brasileiro], á R$ 170 bilhões para o agro negocio. O mesmo para os necessitados de moradia popular e para as construtoras, ou para os bancarios e os banqueiros, os operarios e as montadoras. Enquanto isso, exigiam a desorganização e a não mobilização do Movimento popular e sindical, pelo risco da ingovernabilidade, de um governo "em disputa". Governo este que já se encontrava dominado pela canalha do PMDB e os partidos de direita no governo. Ironicamente, até a primeira eleição de Dilma, a oposição em sua incompetencia, não conseguia pregar um discurso de maleficios no PT. Ironicamente, os aliados [de direita, sempre], aliaram-se à principal e incopetente oposição do DEM e do PSDB, para darem golpe em Dilma.
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